quarta-feira, 9 de junho de 2010

ORIGEM E PROGRESSO DA REFORMA - II-I-2

As causas naturais - históricas e psicológicas - explicam cabalmente a rápida difusão da Reforma, imprimindo-lhe ainda uma vez um ferrete de ignomínia.

Várias razões, que não podemos desenvolver aqui, provocaram a decadência dos costumes cristãos no clero secular e regular, durante os séculos precedentes. A reação reformadora empreendida energicamente pela Igreja produzira frutos copiosos mas ainda não havia ultimado a sua tarefa.

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Livro II 

A Reforma Protestante
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Capítulo I - ORIGEM E PROGRESSO DAS REFORMA
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§ 2. - Progresso da Reforma e suas causas
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SUMÁRIO - Causas predispositivas: corrupção dos costumes e humanismo. - Causas próximas: internas e externas.'

A revolta religiosa explodida na Saxônia propagou-se rapidamente por toda a Europa Setentrional. Ao cabo de alguns anos, a Suíça, a Alemanha, a Inglaterra e a Escandinávia estavam contaminadas do vírus luterano. "Nesta simultaneidade maravilhosa descobre-se o dedo de Deus", p. 56, comenta piedosamente CARLOS PEREIRA.

 
Creio que não há aí matéria para maravilhas nem razão para invocar o dedo de Deus. As causas naturais - históricas e psicológicas - explicam cabalmente a rápida difusão da Reforma, imprimindo-lhe ainda uma vez um ferrete de ignomínia.

Várias razões, que não podemos desenvolver aqui, provocaram a decadência dos costumes cristãos no clero secular e regular, durante os séculos precedentes. A reação reformadora empreendida energicamente pela Igreja produzira frutos copiosos mas ainda não havia ultimado a sua tarefa.82 O mal alastrara por imensa extensão e lançara profundas raízes nas paixões humanas. Em princípios do século XVI encontravam-se ainda, infelizmente, muitos mosteiros relaxados,
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82. Lamentamos profundamente não poder bosquejar, ao menos a largos traços, a cruzada empreendida pela Igreja, no século anterior ao protestantismo, contra os agentes de corrupção que lavravam no seio da cristandade. Ordinariamente não se conhecem senão as sombras desta época de crise. Mas há também luzes e luzes de intenso fulgor. Contento-me com indicar ao leitor as obras seguintes: J. GUIRAUD, Histoire partiale, histoire vraie, t. II(14), Paris, 1912, c. XIII, La réforme catholique avant Luther, pp. 288-319; IMBART DE LA TOUR, Les origines de la Réforme, t. II, L'eglise catholique, la crise et la Renaissance, Paris, Hachette, 1909; J. JANSSEN, Geschichte der Paepste, seit dem Ausgang des Mittelalters, t. I-IV (4), Freiburg I. B. 1889-1909.

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muitos pastores e dignitários eclesiásticos, esquecidos de sua elevada missão religiosa. Era um caldo de cultura favorável ao desenvolvimento e multiplicação do bacilo protestante.

Além disto, a prolongada ação do humanismo, com o seu paganismo renascente, exercera nos ânimos uma influência dissolvente que veio agravar a situação geral. Mas estes fatores intelectuais e morais explicam a diátese da época, outras são as verdadeiras causas da propagação do movimento protestante: internas umas, outras externas.
Nas próprias doutrinas da reforma se encontra a primeira explicação de sua virtude expansiva. Aos sacerdotes e religiosos, impacientes do jugo da disciplina eclesiástica e saudosos da liberdade dos filhos do século, escancarava ela, de par em par, as portas da mal sofrida clausura, relaxava todos os vínculos morais, isentava da fidelidade aos votos e aliciava com as perspectivas douradas do cobiçado matrimônio. Os filhos abastardados de santos patriarcas saudaram com júbilo a pregação do novo Evangelho, como a indulgência plenária de todas as culpas passadas e o advento da suspirada liberdade legal do vício. A quantos parecia pesado o jugo da moral evangélica sorriu a Reforma com sorriso de mãe complacente. O protestantismo enriqueceu assim com os refugos da Igreja católica.83 Há quatro séculos que se repete esta velha história.

Assim se atraía o clero corrompido. Para os leigos e principalmente para os príncipes havia os bens eclesiásticos a tentar-lhes a cobiça. Disse sem rebuços um incrédulo "que o verdadeiro fundamento da Reforma foi o desejo de furtar a prataria e as ricas alfaias dos altares".84 A urna de S. TOMÁS de Cantuária enriquecia o fisco de avultada soma? Foi o suficiente. O santo mártir foi degradado e as riquezes do seu túmulo fizeram parte do seu crime. Na Westfalia, em Munster, Soest e muitas outras cidades da Alemanha setentrional e meridional, a passagem para a nova religião operou-se como um verdadeiro movimento bolchevista.

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83. Aos seus prelados quando se congratulavam de haver lucrado, com a apostaisa de algum sacerdote católico, "um novo irmão", costumava dizer CARLOS II de Inglaterra: "Se ganhaste um novo , brevemente tereis também uma nova irmã". Narra o cronista FREIBERG: "No tempó em que o evangelho foi pela primeira vez pregado entre nós (na Prússia, em 1525) era um contínuo procurar mulher e marido e muito buscados eram os padres e monjes. Porque no princípio possuiam ainda o dinheiro das fundações votivas e a gente se lhes apinhava ao redor". Cit. por MECKELBURG, Die königsberger kroniken, 1865, p. 165.

84. O verdadeiro fundamento da Reforma foi "a pretence for making spoil of the plate, vestures and rich, ornaments belonging to the altars". HUME'S Hist. of Engl. Elisabeth, c. XI, anno 1568, ct. por DE MAISTRE, Du Pape, I. III, c. 5, ed. de 1819, p. 517.


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A todos, sacerdotes e leigos, a Reforma oferecia as inestimáveis vantagens de uma doutrina cômoda, folgada e de sobrancelhas desfranzidas. Não há negar que a dispensa do jejum e da penitência, a supressão do confessionário, poderoso freio moral mas duro à natureza, a glória do céu conquistada só pela fé sem nenhum esforço pessoal e sem a bagagem molesta das boas obras meritórias, deviam ressoar a milhares de ouvidos como o repique festivo de uma "boa nova".85 O livre exame, elevando o indivíduo a árbitro supremo em matéria de religião, era outrossim muito para lisonjear o orgulho humano.

E assim foi. A "liberdade evangélica" atraiu multidões com o engodo de suas aplicações práticas. As palavras de LUTERO oferecem-nos a prova. "O Evangelho hoje em dia encontra aderentes que se persuadem não ser ele senão uma doutrina que serve para encher o ventre e dar larga a todos os caprichos". 86 "A gente se fixou nesta ideia do Evangelho: "Ah! É verdade que Cristo nos anuncia no Evangelho a liberdade? Então já não queremos trabalhar, mas comer e beber e cada um estende o saco para que se lhe encha e ventre".87 Em 1545 escrevia no mesmo sentido MELANCHTHON: "Com zelo e amor abraçam o Evangelho porque nele veem um atalho para o licença que sacode todos os jugos".88


Já começamos a entrever que não foi precisamente "o dedo de Deus" o grande propulsor do movimento religioso do século XVI.

A par destas causas internas concorreram bem cedo outras influências exteriores que se podem cifrar na habilidade de propaganda dos novos pregadores e no apoio do poder civil.


Não há escurecer que LUTERO e muitos dos seus companheiros deram provas de finos psicólogos (não digo de honestos moralistas) 
na escolha dos meios por que insinuaram as novas doutrinas nas massas populares.
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85."Não é porventura uma boa nova, dizia LUTERO, quando um se acha afogado em pecados e vem o Evangelho e diz: Confia e crê; os teus pecados te são, sem mais, perdoados?".Erl. XVIII, 260.

86. Weimar, XXXIII, 2.

87. Weimar, XXXIII, 4.

88; Corp. Reform. V. 725. Eis o original de MELANCHTHON: "Quare cum existimant Evangelii
doctrinam esse rectam et compendiariam viam ad obtinendam licentiam, quae omnia onera executit, quadam caecom studio feruntur ad amorem Evangelii". Cfr. muitas outras citções em DOELLINGER, Die Refomation, t. I (2), pp. 289-359. FREDEICO II da Prússia escreveu sem atenuções: "Si donc on veut réduire les causes des prgorès de Réforme à des principes simples, on verra qu1en Allemagne ce fut l1ouvrage de 'intérêt, en Anglaterre, celui de l'amour, et en France, celui de la nouveautê, ou peut-être, d'une chanson, Mémoires pour servir à l'histoire de le maison de Brandebourg, Ouvres primtives de Fréderic II, Potsdam, 1805, t. I(6), P. 40.


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O largo período medieval de guerras entre o império e a península itálica, os contrastes políticos entre o imperador e o Papa fomentaram durante séculos a aversão, ora secreta, ora ostensiva, entre as duas raças. Alemães e Italianos não se viam com bons olhos. O monge agostiniano soube habilmente explorar este veio fecundo da psicologia popular.






A revolta contra a supremacia espiritual do Papa revestiu facilmente aos olhos do vulgo o caráter de reivindicação patriótica, da independência e exaltação nacional. Consciente ou inconscientemente, povos e príncipes entraram nestas vistas políticas e fizeram servir a separação religiosa às miras de ambições temporais.

Neste intuito, os primeiros reformadores não pouparam meios de desprestigiar Roma e o Papado. O povo ouve sempre de bom grado quantos oradores se insurgem contra a autoridade, fustigando-lhes os costumes desregrados e inculcando-se arautos de melhor porvir. É fácil imaginar com quanta avidez afluíram as massas aos discursos tribunícios de LUTERO, que, em arrojos de eloquência popular arremetia contra papas, cardeais, bispos e religiosos. Onde e quando deixou o escândalo de exercer sua atrativa doentia sobre a alma das turbas? 89


A ironia vilã, o insulto grosseiro, a sátira deslavada, tudo servia para condimentar as arengas populares e apimentar os escritos de vulgarização do sabor dos paladares derrancados.90 A escurrilidade no estilo do monge saxônio é de uma baixeza inferior a qualquer qualificação. Quereis exemplos? Ouvi estes trocadilhos de sargeta: Vaccultas (relativamente a vacas) em vez de facultas; cacolyca Ecclesia, [grego: cacós em de catholica; os professores de Lovaina são nostrolli magistrolli; coelistissimus [gr. cacós - mau] na sua pena transforma-se em scelestissimus, sanctis-coelestissimus

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89. Excelentemente DE MAISTRE: "Le coeur humaine est naturellement révolté. Levez l'étendard contr l'autoritê, jamais vous ne manqjerez de recrues. Non serviam. C'est le crime éternel de notr malheureuse nature". De l'Eglise gallicane, c. 4, Lyon, 1821, p. 35.

90. Sobre as sátiras e pasquins deste tempo cfr. SCHADE, Satyr. u. Pasquille aus d. Reformationszeit. Hannover, 2856, 3 vols. Em pintar caricaturas frívolas e obscuras ocupou-se principalmente o conhecido pintor LUCAS KRANACH. LUTERO e MELANCHTHON nas tavernas de Wittemberga aviltgaram-se até a baixeza de ilustrart as monstruosas figuras do "papa-asno" e do "frade-boi". Alguymas desta caricaturas podem ver-se em DENIFLE, Luther und Luthertum. t. I(2), 827, 832, 837, 840. Mais pormenores sobre esta indigna campanha de caricaturas podem ver-se no estudos recentíssimos de M. GRISAR, F. HEEGE, Luther Kampfbilder, Freiburg l. B.; Herder, 4 Hefte. "Nous rougissons encore, escre DE MAISTRE, pour la nature humaine, en lisant dans les écrits du temps les sacrilèges injures vomies par ces premiers novateurs contra la hiérarchie romaine". Du Pape, Conclusion, Lyon, 1819, p. 664.


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[Lat. Scheleritas - maldade, crueldade] na sua pena transforma-se em scelestissimus, sanctisssimus em satanissimus. Outros equívocos mergulham tão fundo na obscenidade que uma pena limpa não os pode transcrever. Escute ainda estas truanices do seu polemizar: "um asno sabe que é asno, uma pedra sabe que é pedra, e estes asnos de papistas não sabem que são asnos"; "o papa não me pode dizer que sou asno, ele bem sabe que, pela bondade de Deus e sua graça particular, sou mais douto nas escrituras que ele e todos os seus jumentos". Para cobrir de ridículo sacerdotes e religiosos, ele acha bufonerias deste jaez: "Se eles pelo sacerdócio não nos podem mostrar senão a tonsura, a unção e a veste talar, nós os deixaremos gloriarem-se nestas imundícies porque sabemos que facilmente pode tosar-se uma porca ou um porco, ungi-lo e vesti-lo com uma sotaina"91 Que trivialidade de histrião! A vilania desta linguagem, que apenas se compreende numa taverna de almocreves, mal se compadece realmente com a dignidade de reformador evangélico! Mas a freguesia da feira ria e batia palmas; o saltimbanco continuava a chocarrear.92 O estilo é o homem.
A peçonha da calúnia vinha envenenar as farpas da sátira grosseira. Não há talvez na história exemplo de campanha difamatória mais indigna e abjeta que a empreendida pelos reformadores contra Roma. As personagens, as doutrinas, os ritos, os usos, as ações da Igreja católica, tudo passava pelos dentes daquela grande entrosagem
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91. Weimar, XII, 189. Cfr. DENIFLE, Luther, etc., I(2), p. 300 ss.; BOSSUET, Hist. des variat., l. I, n. 33; l. 6, l. 39. No calão das badernas, com LUTERO corre parelhas CALVINO. Que arrieiro desbocado, numa arremetida de cólera, encontraria estas facetas para saudar os Padres do Concílio Tridentino? "Salve tridentícolas, soldados de Netuno, ignorantes, estúpidos, asnos, porcos, bestas, legados do Anticristo, ventres ociosos, cadáveres pútridos, padres cornudos, monstros pestilenciais, padres auritos, filhos da fé romana, isto é, da grande prostituta". Ver o original latino ainda mais veemente em AUDIN, Histoire de la vie de Calvin, Paris, 1841, II, p. 376. O vocábulo é rico e sonoro, é digno do"Paulo do cristianismo restaurado".

92. Os contemporâneos reconhecem a linguagem descomposta e inconvenientes do ex-frade. BULLINGER, reformador suíço assim o julgava em 1545: "É infelizmente inegável e manifesto que ninguém, tratando da fé e de assuntos graves e importantes escreveu jamais de modo tão áspero, tão rude, inconveniente e contrário à moderação e bons costumes cristãos como Lutero" DOELLINGER, Die Reformation, III, 263. TOMÁS MOORE, aliás, tão moderado, pinta-lhe assim, num realismo cru o estilo obsceno: "Nihil habet in ore ullus unquam acurra scurratur... Si pergat scurlilitate ludere nec aliud in ore gestare quam sentinas, cloacas, latrinas, m... stercora, facient quod volunt alii, nos ex tempore capimus consilium, velimusne sic baccantem... cum suis m... et stercoribus cacantem cacatumque relinquere". Responsio ad convitia Lutheri 1523. Opera, Lovanii, 1566, p. 116. O apóstata tinha consciência desta mordacidade, mas eis como se desculpa: "Não posso negar que sou mais violento do que convém; mas os meus inimigos que o sabem não deviam atiçar o cão"."Quase todos me condenam a mordacidade". DE WETTE, I, 479. ZWINGLIO com o seu estilo descabelado dizia: "Quando leio os seus livros [de Lutero] parece-me ver um animal imundo a grunhir num jardim de perfumadas flores; tão impuramente, tão pouco teologicamente, com tanta impropriedade fala LUTERO de Deus e das cousas sagradas". Opera, II, 192.


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e saia vilipendiado, adulterado, mutilado, falseado. Alguns exemplos bastarão para convencer o leitor. Falando do Matrimônio escreve LUTERO: "Os papistas ensinam que o matrimônio é verdadeira impureza e pecado em que se não pode servir a Deus". "O Papa, o diabo e a Igreja são inimigos do estado matrimonial... para eles esse estado não passa de comércio ilícito, pecado, coisa impura, rejeitado por Deus"94 "O Papa nos seus livros chama o estado matrimonial, estado pecaminoso, em que não se pode prestar a Deus um culto que lhe seja agradável".94 Por LUTERO, respondam-me os protestantes: onde afirma o Papa semelhante coisa?

Tratando da absolvição e querendo demonstrar que os religiosos são absolvidos graças às suas boas obras, LUTERO trunca a fórmula católica (que ele tantas vezes ouvira e recitara), omitindo-lhe a parte essencial: "ego te absolvo a peccatis tuis", para, mais tarde, propor estas mesmas palavras, como a única e verdadeira fórmula de absolvição, inventada por ele e desconhecida dos "papistas".95


LUTERO aplicou em toda a linha o princípio psicológico que ele próprio formulara nos seus primeiro anos: "os hereges não são bem acolhidos se não pintam a Igreja como má, falsa e mentirosa. Só eles querem passar por bons: a Igreja há de figurar como ruim em tudo".96
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93. Erl. XXV, 369, 373.

94. Erl. xliv, 376.

95. Weimar, XII, I abt. 264. A verdadeira fórmula propõe-na ele num sermão de 1540. Se não fora a brevidade do espaço demonstraríamos com numerosos exemplos como LUTERO, conscientemente, falsificou textos, truncou citações, alterou palavras para caluniar e vilipendiar a Igreja católica. Não foi LUTERO quem disse em 1520: "Para enganar e subverter o papado julgamos que tudo nos é lícito"? DE WETTE, I, 478. Não foi LUTERO quem, no caso da bigamia de landgrave de Hasse, escreveu: "Que mal haveria em dizer para o bem da Igreja [da luterana  uma boa e grossa mentira"? Não foi LUTERO quem, em 1530, a propósito da atitude tomada contra os católicos na dieta imperial, escreveu a MELANCHTHON: "Se conseguimos evadir a intervenção da força, durante a paz emendaremos facilmente os nossos enganos e os nossos erros dolos ac lapsus nostros facile emendabimus) porque sobre nós reina a misericórdia de Deus"? DE WETTE, IV, 156. - Sr. CARLOS PEREIRA, mire estes textos do seu grande patriarca antes de escrever que "o fim justifica os meios" "é grande princípio da moral jesuíta", p. 440. - À luz dos seus escritos e atos como aparecer verdadeiro o juízo de DENIFLE: "Em LUTERO não encontramos um homem que de modo algum mereça o nome de reformador, mas um agitador, um revolucionário para o qual não havia sofisma por mais ousado, malícia por mais astuta, mentira por mais grave, calúnia por mais atrevida, de que se não servisse para justificar a sua apostasia da Igreja e dos princípios que, no passado, haviam sido seus". DENIFLE, Luther und Luthertum, I (2), 298.

96. Weimar, III, 45. Cfr. IV, 363. Eis a este repeito alguns juízos dos contemporâneos do reformador. O luterano JERÔNIMO PAPPUS: Luetero "em caluniar não tem igual". ERASMO: "Revelarei a todos que mestre insigne és em falsificar, exagerar, maldizer a caluniar. Mas já toda a gente o sabe... Na sua astúcia saber torcer a própria retidão, desde que o teu interesse o requeira. Conhecer a arte de mudar o branco em preto e de fazer das trevas luz". FRANCISCO ARNOLDI, de um escrito do heresiarca: "há nele tantas mentiras, quantas palavras". JOÃO DIETEMBERGER: "É o mais mentiroso de quantos homens vivem debaixo dos céus". E ainda: "Não é um homem que erra, é o espírito maligno, espírito para o qual nenhum mentira, nenhum falsidade, nenhuma impostura é demasiada". JORGE, duque da Saxônia: "Até aqui não nos havia ensinado a Sagrada Escritura que Cristo houvesse escolhido para o apostolado e a pregação do seu Evangelho, mentiroso tão de profissão e tão impudente". Cfr. estes e muitos outros testemunhos coevos, assim protestantes como católicos, apud GRISAR, Luther, II, 452, e ss.


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CALVINO, navegando na esteira do mestre, não cora de escrever estas enormidades: "Ninguém ignora que aparência de religião professavam há muito tempo e ainda hoje professam o Papa e todo o colégio dos cardeais. O primeiro ponto capital da arcana teologia que entre eles domina é que Deus não existe; o segundo é que, quanto se lê e ensina acerca de Cristo não passa de mentira e impostura. o terceiro, que quanto diz a Escritura acerca da vida eterna e da ressurreição final são meras fábulas e isto, acrescenta, é "coisa conhecidíssima de quantos conhecem Roma".97 Quem se não havia de levantar, todo ardor e todo zelo, contra esta igreja degenerada em covil de ateus, materialistas e idólatras? Sim, também idólatras e para justificar mais este epíteto, adulterou-se a doutrina tão simples do culto dos santos e das imagens. Aqui a calúnia já não é de um indivíduo, ainda que chefe de partido, é da apologia da confissão augustana, documento oficial do protestantismo. Eis as suas palavras: "Alguns há que atribuem claramente a divindade aos santos afirmando que vêem os mais secretos pensamentos do nosso coração... Fazem dos santos não só intercessores, mas mediadores da redenção. - Não falamos das abusões do povo, mas da opinião dos doutores (sic!...) Da invocação dos santos passaram às imagens. Honraram-nas, pensando que tivesse uma virtude secreta como os magos dizem haver nas imagens esculpidas em determinadas épocas".98
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97. CALVINO, Inst. de la Relig. Chrét., 1, 4, c. 7, n. 27. Este trecho inqualificável merece citado no original: "Mais qu'est ce que j'en [des Papes] nomme trois ou quatre, comme si on estoit en doute queile est la chrestienté dont les Papes, avec tout le Collège des cardinaux ont fait profission desje par longues années, et fonte encores à présent? Le premier article de leur théologie laquelle ils ont entre eux, est qu'il n1y a point de Dieu. La second, que tout ce qui est escrit et tout ce qui est contenu em l'Ecliture touchant la vie eternelle et sa réssurrection de la chair, ne sout que fables". Opere, IV, 714; Trad. lat., I, 625-6.

98. Aplogia, ad art. XXI, c. De Inovoc. SS. Corp. Reformat., XXVI, 588, 589,591. Outro antigo teólogo de grande fama entre os protestantes não hesitou em escrever que "entre a idolatria pagã e a invocação dos santos não há mais que simples diferença de nome". CHEMNITZ, Examen Concilii Tridenti, Ed. de Berlim, 1861, p. 71.


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Em tudo isto se escrevia sem pestanejar, se imprimia, se vulgarizava e enraizava nas populações protestantes que, na sua ingenuidade, ainda hoje acreditam em todas estas enormidades da grande meretriz de Babilônia!

Mais um fato. LEÃO X, como é sabido, recorrera a todo o orbe católico pedindo esmolas para a construção da grande basílica de S. Pedro. 


Um predicante do tempo ULRICO HUTTEN, escrevia: 

"A tal igreja de S. Pedro não passa de uma comédia representada pelo Papa para recolher dinheiro. Ele nem pensa em construi-la. O que afirmo, continuava o honesto evangélico, é a verdade mesma, o Papa solicita recursos de todo o universo para a basílica de S. Pedro, e nela só trabalham dois operários, um dos quais é coxo"99 

Que prazer ouvir no século XX a este bom protestante afirmar como "a verdade mesma" que Leão X não pensava em construir a basílica Vaticana!

A Hipocrisia foi o último ardil de que lançou mão a Reforma nascente para introduzir as suas doutrinas. Muitas populações católicas passaram-se para a heresia quase sem o perceber. A principio se conservava a missa e a aparência externa dos ritos católicos, depois, pouco a pouco, se mutilavam as palavras do cânon e se expunham à adoração do povo hóstias não consagradas até que os ânimos se fossem dispondo a receber toda "a verdade". Assim, no regulamento para as funções religiosas na Saxônia Eleitoral, a missa solene foi conservada nas cerimônias externas, mas LUTERO suprimiu o cânon e tudo quanto nas coletas se refere à oblação, "porque o povo não podia perceber" a mutilação sacrílega, mas quis se conservasse a elevação para contentá-lo".100


Aos seus, advertia ZWINGLIO "que a princípio apresentassem só as peras doces deixando as amargas para o fim". Como se vê, ainda uma vez, o maquiavélico princípio: o fim justifica os meios, foi pelos chefes das reforma admitido em teoria e largamente aplicado em matéria religiosa.

A raiz de onde germinavam como frutos espontâneos a calúnia, a sátira, a hipocrisia e a violência da propaganda reformista, é mais íntima e profunda: Depois do amor, não há estímulo mais potente à atividade humana que o ódio. Com o amor, o ódio cega;

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99. Cit por DE MAISTRE, De l'Eglise gallicane, 1. 2, c. 13, ed. 1821, 302.

100. Cfr. RICHTER, Die evang. Kirchenordnungem d. 16 Jahrund Urkund u. Regest., WEIMAR, 1846, 2 vols.







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e centuplica as forças. Foi nesta paixão dos precitos que LUTERO a sua energia indomável na guerra àquela contra a qual Jesus Cristo havia predito se haviam de conjurar todas as potências do inferno. A destruição, a morte do Papado por todos os meios, é o grande ideal do apóstata saxônio. Como Moisés destruiu e pulverizou o bezerro de ouro, diz ele "assim devemos nós fazer, com o Papado, até reduzi-lo a cinzas"101 "desejo ver abolidos, extintos, arrasados todos os mosteiros. Oxalá Deus os arrase, como outrora Sodoma e Gomorra, num mar de fogo e enxofre do céu, para que deles não fique sobre a terra nem sequer memória".102

Se os monumentos da fé católica despertavam tais sentimentos no desditoso egresso, as pessoas não se furtavam menos aos desejos de uma vingança homicida: "Se eu pudesse colher unidos numa casa todos os franciscanos, atear-lhes-ia fogo... Eia, ao fogo todos!"103 Os religiosos "não são dignos de se chamarem homens, nem mesmo deveriam chamar-se porcos"104 

Mas o ódio só se sacia no sangue, e o sangue dos católicos desejava-o LUTERO para nele lavar as mãos. "A mim me parece que, a continuar esta fúria dos romanistas, já não nos resta outro remédio senão que imperador, reis e príncipes, com as armas e a violência, assaltem esta peste do mundo e dirimam a questão não com palavras mas com o ferro... Se punimos os ladrões com a força, os bandidos com a espada, os hereges com o fogo, por que não havemos de agredir com as armas estes mestres de perdição, estes cardeais, estes papas, toda esta sentina de Sodoma romana, por que não havemos de lavar as nossas mãos no seu sangue?"105

Não bastava odiar de morte em vida; o ódio, como o amor, aspira à eternidade. O ódio ao Papa foi o grande testamento de LUTERO. Em 1537 enfermou o heresiarca em Esmalcalda. A doença agravou-se tanto que se julgou iminente o desenlace. O moribundo compôs então uma oração que terminava com estas palavras: morro no ódio do Papa (ego morior in ódio papae). A 25 de fevereiro declarou queria que o seu epitáfio fosse:



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101. Weimar, XXVIII, 762.

102. Weimar, VIII, 524.

103. Tischreden na coleção de Mathesius, n. 305.

104. ErlXLVII, 37. - Outros Tópicos semelhantes contra bispos e papas apud DENIFLE, Luther u. Luthertum, I, 241-348.

105 - "Cur non... manus nostras in sanguine istorum lavamus". Weimar VI, 347. Cfr. ibid., p. 427. É essa alminha pura, esse cordeirinho inocente, que ousa escrever: "Em verdade nunca desejei nem fiz mal ao papistas; quisera tão somente reconduzi-los ao verdadeiro Cristo". Erl. XXXI, 389.


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Pestis eram vivens, moriens ero mors tua Papa". No dia seguinte julgaram poder transportá-lo para Wittemberga: LUTERO não queria morrer na cidade onde então se achava o legado pontifício. No momento da partida, o enfermo recebe as despedidas dos amigos, e ao pôr-se em movimento o carro traça com a mão uma cruz e diz "Deus vos encha de suas bênçãos e de ódio ao Papa". MATHESIUS, seu discípulo, então presente, conta-nos que no veículo LUTERO declarou as suas últimas vontades e fez o testamento, deixando aos seus amigos, os seus sermões e odium papae.106


Eis a triste herança que o pai do protestantismo legou aos seus filhos, pelos séculos afora!

Toda esta grande máquina de guerra montada contra Roma, apesar de tão bem manejada pelos seus construtores, ainda assim não explicaria, só de per si, a rápida difusão da heresia, se o poder civil não lhe viesse bem cedo trazer o inestimável reforço da espada. Com a promessa dos bens eclesiásticos, com oportunas concessões morais,107 com a perspectiva da mais completa independência, LUTERO e os seus acólitos souberam aliciar reis e príncipes, que puseram logo as suas armas a serviço da propaganda "evangélica". Foi a violência, que, quase em toda a parte, oprimindo as consciências, implantou a reforma do "livre exame". Com o advento do protestantismo soçobrou a liberdade religiosa e política para ceder lugar à revivescência pagã do cesaropapismo.

Na Inglaterra basta lembrar as páginas sanguinosas e as loucuras tirânicas e teológicas de HENRIQUE VIII, o rei adúltero, de ISABEL, a rainha "virgem", e de CROMWELL, e déspota fanático. O venerando bispo FISCHER e o ex-chanceler TOMÁS MOORE foram as mais ilustres das numerosas vítimas que pagaram com a vida a audácia de não reconhecer a supremacia espiritual da coroa. Com a introdução do protestantismo prevaleceu a doutrina que o rei era "vigário de Deus na terra, o Papa do seu reino, o expositor nato da verdade religiosa e o canal da graça".108 JAIME I trazia sempre
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106. Para indicação de fontes e mais pormenores deste episódio, cfr. GRISAR, Luther, II, 361.

107. Comparece-se o proceder de LUTERO que autoriza a bigamia do landgrave Filipe com o de Clemente VII em face do divórcio de Henrique VIII.

108. The King was to be the Pope of this Kingdom, the vicar of God, the espositor of catholic verity, the channel of sacramental graces. He arrogated to himself the rigt of deciding dogmatically what was orthodox doctrine and what was heresy, of dewingup and imposing confessions of faith... He proclaimd that ail juristiction, spiritual as well as temporal, was derived from him alone". MACAULAY, The History of England, Leipzing. 1849, I, 54.




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nos lábios o seu direito divino, a onipotência de suas ilimitadas prerrogativas. "Leis e evangelho, faço-os como bem me apraz".109 Ainda em tempos modernos Lord CLARENDON, historiador e estadista, afirmava que a supremacia espiritual dos reis da Inglaterra era "a melhor metade de sua soberania".110

Na Escócia, com o calvinismo entrou a mais absoluta tirania das consciências 111 O poder civil começou a oprimi-las despoticamente em favor das novas doutrinas. Quem celebrava a missa pela segunda vez era punido com pena de morte. A vida particular e doméstica foi submetida às violências e violações discricionárias dos beleguins oficiais. Os presbiterianos entraram a servir-se da arma poderosa da excomunhão com tal excesso que nenhum cidadão podia viver seguro; quase todas as ações da vida íntima eram denunciadas ao foro presbiteriano, à sombra de um sistema desumano de espionagem, denúncias e intrigas coloridas com as aparências de zelo religiosos, aclimou-se no solo escocês a "liberalíssima" Reforma.
Na Dinamarca foi a introdução do protestantismo obra de CRISTIANO II, por suas crueldades cognominado o Nero do Norte. CRISTIANO III continuou a mesma política, encarcerou os bispos, confiscou-lhes os bens, expulsou os religiosos em nome da liberdade evangélica e proclamou-se chefe supremo da Igreja denamarquesa. À sua comunidade religiosa deu constituição e bispos subordinados, que governassem sob a sua única e imediata autoridade de bispo-máximo.

Os 25 artigos publicados em 1569 impunham a todo o estrangeiro que quisesse entrar na Dinamarca uma profissão de fé luterana em que se declarava a invocação dos santos "uma idolatria",

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109. "Do I make judges? Do I make the bishops? Then, God'swauns! I make what lides me, lae and gospel". JPHM FPRSTER, Hist.Essays, London, 1858, I, 227. Veja-se o contraste dos países submetidos "ao absolutismo papal". Sob FILIPE II, um pregador espanhol adiantou, num púlpityo de Madrid, a seguinte proposição: "Ro rei tem poder absoluto sobre as pessoas e propriedade dos seus súbitos". A frase foi condenada pela inquisiçãoe o pregador deveu retratar-se no mesmo púlpito e declarar "que os reis não têm sobre os súditos outro poder senão o que lhe conceidam os direitos divinos e humanos, e de modo algum um poder proveniente de sua livre e abosluta vontade". ANTÔNIO PEREZ, nas suas Relações. Cfr. université Catholique, XXII, p. 784. É sabido que a teoria do "direito divino" dos reis aventada lpelo protestante JAIME I, foi energicamente combatida pelo apologistas católicos SUAREZ e BELARMINO.

110. "The better moiety of their sovereignty". Edinburghh Review, t. XIX, P. 435.

111. KNOX, que introduziu a Reforma na Escócia declarou abertamente que ao pode civil competyia a ordenação religiosa do país. "!To th civil magistrate specially appertains the ondering and refomation of Religion". Westmenster Review, t. LIV, p. 453.


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a Missa "um ídolo do anticristo", o purgatório, "uma invenção diabólica". A extinção do culto das imagens, a abolição do celibato, a introdução da língua vernácula na liturgia, tudo foi feito a golpe de decretos reais com as respectivas sanções de multas, confiscações de bens, exílio e morte.

Destarte a opressão violenta do catolicismo entrou nos costumes do governo. Ainda em 1777 e 1789 se decretava pena de morte contra o sacerdote católico que ousasse pôr os pés em território dinamarquês!
Na Suécia, GUSTAVO WASA bateu o mesmo caminho. Dois bispos católicos, JACKSON e KNUT foram decapitados; os outros constrangidos a fugir, o patrimônio eclesiástico, recolhido ao fisco real; o culto católico, por toda a parte proscrito. Exacerbado pelos atos de prepotência e libertinagem que no seu entusiasmo pelo liberdade evangélica praticavam os soldados alemães, o povo mais de um vez recorreu às armas para defender a religião de seus pais. Gustavo afogou no sangue estas reivindicações das consciências oprimidas.

Na Suiça 112 foi o senado, no Holanda foram os estados gerais, que decretaram o protestantismo, religião oficial.

Na Alemanha não foi menos violenta a opressão da força bruta. Aí vulgarizaram os inovadores o princípio: quem domina no território, domina na religião (cujus regio illius et religio). À autoridade do Papa substituiu LUTERO a tirania dos soberanos sobre as consciências.113_____________


112. Do calvinismo em Genebra assim fala o protestante GALIFFE: "une religion (a de Calvino] assetiellement intolérante étyablie Ipar la force brutale contre la persuasion intime...Calvin était abhorré de la masse de la mation; sa doctrine était si peu populaire que, à l'exception d1un moine défgroqué, Jacque Bernard, il ne se trouva pas un seul Génévois qui voulut être ministre dans torut le courant du seixième siècle. On les forçait d'1alier entendre des sermons qui leur paraissaient absurdes et implies; les rénitents etaient mis au crontton, au pain et à l', et ensuite au cachot. C'est ainsi que le calvinisme fut planté sur notr terrain, ou il ne peut produire que les fruits les plus amers". J. B. GALIFFE, Notices généalogiques, etc., III, 403.

113. A João, príncipe eleito de Saxônia, escrevia LUTERO (22 de nov. 1526); "Agora que no principado de V. A. cessaram a coação e a autoridade do Papa e dos clero e todos os conventos e capítulos caíram nas vossas mãos, a vós como chefe supremo incumbe o dever de regulamentar também todas estas coisas". DE WETTE, III, 136. CALVINO escrevia a 22 de outubro de 1548 ao duque de Somerset, então regente da Inglaterra, que lhe incumbia o dever de exterminar com a espada todos os que se apusessem ao estabelecimento da nova Igreja, isto é, os católicos. Operam XIII, 81. E como os protestantes só admitem a Bíblia como regra da fé, no convênio de Naumburgo (1554), os teólogos luteranos aduziram como argumento da submissão da igreja aos príncipes, aquilo do Psalmo 27, 7:Attollite portas, principes, vestras, etc.! - O atribuir aos príncipes o supremo poder em matéria de religão é doutrina corrente e oficial entre luteranos e reformados. IConfessio Helvetica posterior (1562), art. XXXII; Westminster Confession (1467) cap. XX, n. 4; Confessio Sigismundi (1614); ap. E. F. KARL MÛLLER, Die Bekenntnisschriften der reformeirten Kerche, in authetischen Texte, mit fesch8chtlichn Einleitug und Register. Leipzig, 1903, respectivamente pp. 220, 261-2, 447, 586-7, 835


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Os príncipes não se fizeram rogar; empunharam o báculo que lhes oferecia a nascente heresia e entraram a legislar com desassombro em matéria religiosa. As ordenações eram naturalmente ditadas pelas novas doutrinas; quem se não quisesse sujeitar, deixasse as terras do príncipe-papa. "A fim de prevenir funestas sedições e outras desordens o príncipe não deve tolerar no seu território nenhuma seita ou divisão",114 proclama LUTERO. A opressão do catolicismo pela força armada foi a consequência de semelhante princípio que obrigava os súditos a trocarem de credo quando trocavam de soberano. No Congresso da Paz da Westfália, (1648) WOLFGANG VON DEMMINGEN declarou, que "uma cidade do palatinado, desde a Reforma, já havia mudado 10 vezes de religião, consoante os seus príncipes eram luteranos ou calvinistas".115

A evidência desta verdade histórica prestou homenagem o célebre ministro JURIEU: "Il est encontyestable que la réformation s'est faite par la puissance des princes. Ainsi, à Genève, ce fut se Sénat; dans d'autres parties de la Suisse, ce fut le Grand Conseil; en Hollande, ce Furet les Etats Génèraux; en Suède, en Dinamark, en Engleterre, en Escossé, les rois et les parlements. Les pouvoirs de l'Etat ne se contentèrent pas d1assurer la liberté aux partisans de la Réforme; ils allèrent jusqu'à enlever aux papistes leurs Eglises et à leur défendre tout exercice public de leur religion". 116

Assim, por toda a parte, as violências do braço secular ultimaram e consolidaram a obra de expansão empreendida pela propaganda dos chefes da revolta religiosa. Reis e parlamentos,
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114. Cfr. JANSSEN, Gescjocjte des deutschen volkes, t. III, 57-70.

115. PFANNERI, Hist. pacis Westph. 1, ss. 42. Ap DOELLINGER, Kirche und Kirchen, p. 55.

116. JURIEU, cit por AZLOG, UNIVERSALGESCHICHTE DER CHRISTLICHEN kERCHE (7), Mainz, 1860, p. 841. Quão justa é, pois, a observação de DOELLINGER: "Historicamente, nada é mais falso que afirmar ter sido a Reforma uma movimento favorável à liberdade de Consciência. A verdade é precisamente o contrário. Para si, certamente, luteranos e calvinistas reclamaram a liberdade de consciência como todfos os homens em todos os tempos. Mas concedê-la a outrem quando eles eram superiores em força, foi o que nunca lhes passou pelo pensamento. Todos os reformadores tinham em mira a total supressão e extermínio da Igreja católica, como a cousa mais natural do mundo!. IDie Kirche und die Kirchen, 1861, P. 68. edgard quinet: "Onde quer que a liberdade de consciência não foi oprimida, o protestantismo não tardou em desaparecer".


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príncipes e nobres, impuseram o protestantismo aos povos sob a sanção das penas mais severas. Onde não encontrou o apoio da espada, a Reforma não vingou. Em nenhuma região do mundo o protestantismo se estabeleceu pelo livre exame.117

Não é, pois, mister gritar "maravilha", nem apelar para uma intervenção especial do Céu. Sem "o dedo de Deus", o paraíso terrestre do Corão e a cimitarra de Maomé já haviam produzido em outras eras o mesmo efeito. A Reforma do século XVI bateu a mesma estrada de lodo e de sangue.

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117. Em todas as discussões serenas e livres entre católicos e protestantes, estes foram sempre manifestamente batidos. Basta lembrar as célebres controvérsias entre S. FRANCISCO DE SALES e TEODORO BEZA, O CARDEAL DU PERRON e DUPLESSY, MORNAY, BOSSUET e CLÁDIO JURRIEU.

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