sexta-feira, 6 de agosto de 2010

IGREJA - IGNORANTE E OBSCURANTISTA - IRC/LCP III-II-1

Para averbar a Igreja católica de ignorante e obscurantista fora mister cerrar os olhos obstinados à luz da evidência, e rasgar, uma por uma, todas as páginas dos seus fastos gloriosos. Os adversários não recuaram ante a enormidade de semelhante delito. De que mal não é capaz uma vontade pervertida, um coração obcecado pelo fumo das paixões? Fecharam as pupilas doentias ao brilho que as molestava, adulteraram os fatos do passado, negaram as evidências do presente ao grande mundo das pequenas inteligências, que vivem da meia luz emprestada pelas obras de fancaria, pelos libelos difamatórios, pelos folhetins de uma propaganda sem consciência, clamaram que a Igreja era inimiga das luzes e do progresso, da ciência e da filosofia, da cultura e da arte.

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LIVRO III



A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO

Capítulo II

A IGREJA, A REFORMA E A CULTURA INTELECTUAL

§ 1. - A Igreja e a cultura intelectual

SUMÁRIO - Duas espécies de cultura. - Pregação e catecismo.- Instrução popular; escolas primárias. - Estudos superiores; criação das universidades.


A Igreja católica é a verdade. Um oceano de resplendores banha-lhe o berço. Uma imensa claridade benfazeja segue-lhe a trajetória luminosa no firmamento da história. Filha da luz, ela vive na luz como em seu elemento natural, respira a luz como o oxigênio vivificador de sua existência, esparge a luz como efusão espontânea de sua atividade fecunda.

Para averbá-la de ignorante e obscurantista fora mister cerrar os olhos obstinados à luz da evidência, e rasgar, uma por uma, todas as páginas dos seus fastos gloriosos. Os adversários não recuaram ante a enormidade de semelhante delito. De que mal não é capaz uma vontade pervertida, um coração obcecado pelo fumo das paixões? Fecharam as pupilas doentias ao brilho que as molestava, adulteraram os fatos do passado, negaram as evidências do presente ao grande mundo das pequenas inteligências, que vivem da meia luz emprestada pelas obras de fancaria, pelos libelos difamatórios, pelos folhetins de uma propaganda sem consciência, clamaram que a Igreja era inimiga das luzes e do progresso, da ciência e da filosofia, da cultura e da arte.

Que fazer ante esse atentado sem nome? Redarquir violênica com violência, opor declamação a declamação, refutar invectivas








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com invectivas? Não. Bastará reconstruir a história em toda a singeleza da sua verdade, lembrando fatos incontestáveis e citando documentos que não admitem réplicas. Para as almas desapaixonadas a verdade tem por si as clarezas irresistíveis da evidência. Para os espíritos partidários não há fulgor meridiano que não eclipsem os vapores partidários do preconceito pertinaz.

Esbocemos em rápido escorço, esta reconstrução histórica de luzes e de glórias.

Distingo duas espécies de cultura intelectual: a cultura religiosa, essencialmente necessária a todo o homem para conseguir os destinos divinos de sua natureza e a cultura profana e acidental que é um dos primeiros fatores de sua felicidade terrestre e o instrumento mais poderoso que lhe deu o Criador para firmar o centro de sua soberania sobre o mundo sensível.

É no campo da cultura religiosa que a Igreja exerce diretamente a sua ação civilizadora. Disse-lhe Cristo: ensinai a todos os povos. Ensinai-lhes, não a álgebra ou a astronomia, a química ou eletrotécnica, mas o resumo substancial destas verdades eternas, sem as quais o homem cessa de ser homem para baixar ao nível de um bruto aperfeiçoado. Ensinai-lhe a origem divina de sua existência, a sublimidade sobrenatural dos seus destinos, as grandezas dos mistérios cristãos. Dizei-lhe o que devem crer e o que devem esperar para conseguir um dia a felicidade suprema de uma vida melhor, sobre a qual já não tem poder as vicissitudes do tempo.





Eis o que é essencial ao homem. Possuísse ele a soma incalculável de todos os conhecimentos experimentais e ignorasse a substância destas verdades que lhe norteiam a atividade moral e religiosa, sua vida, sem destino nem ideais, não passaria de um grande erro que iria fatalmente terminar numa catástrofe irremediável. Oxalá não o houvessem olvidado tantas vezes os paladinos da instrução moderna que, esquecidos de Deus, de Cristo e da eternidade, julgaram haver achado o talismã da regeneração dos povos num punhado de noções literárias, geográficas e aritméticas.

À missão divina confiada pelo Salvador, a Igreja não foi infiel um só instante da sua existência. Apenas nascida, iniciou pela pregação este ensinamento popular das verdades mais sublimes, que durante séculos não soube inventar a sabedoria pagã, constrangida, na esterilidade de sua ação impotente sobre as turbas, a circunscrever o seu magistério a um círculo estreito de iniciados. A velhinha cristã, o humilde operarío cristão, assíduo às instruções do seu pastor, não saberá talvez soletrar as páginas de um jornal mas possui,



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com certeza infalível, um patrimônio de verdades sublimes de que se não podem gloriar os maiores gênios da antiguidade pagã.

Mais tarde, ela consubstanciou todos estes ensinamentos nas páginas de um livrinho maravilhoso. Nas torturas indizíveis de uma dúvida que lhe amargurava a existência, ninguém talvez melhor do que JOUFROY descreveu a fecundidade divina da ação universal do catecismo sobre as inteligências. Ouvi esta página célebre: "Il y a um petit livre qu'on fait apprendre aux engants et sur lequel on les interroge à l'Eglise. Lisez ce petit qui est le catéchisme.Vou y trouverez une solution de toutes les questyions que j'ail posées, de toutes sans exception. Demandez au chrétien d'où vient l'espéce humaine, il le sait. Demandez à ce pauvre enfant, qui de sa vie n'y a songé, porquoi il est ici-bas et ce qu'il deviendra àprès sa mort: il vous fera une réponse sublime qu'il ne comprrend pas (?!), maios qui est admirable. Demandez-lui pourquoi le monde a été créé, à quelle fin... pourquoi les hommes parlent plusieurs langues, pouquoi els souffrent, pourquoi ils se basttent et comment tout cela finirá, il le sait. Origine du monde, origine de l'espèce, questions de race, destinée de l'homme em cette vie et en l'autre, rapports de l'homme avec Dieu, devoirs de l'homme envers ses simblables, droits de l'homme sur la création, il n'ignore rien et quand il será grand, il n'hésiterá pa devantage sur le droit naturel, sur le droit politique, sur le droit des gens, car tout cela sort , tout cele décole avec clarté et comme de soi-même du christianisme".1

Mas a inteligência é a raínha das faculdades humanas; seu cultivo e desenvolvimento aliado à retidão da vontade é a maior perfeitão natural do homem. E a Igreja ama a natureza humana.Tudo o que engrandece, exalta e dignifica, constituiu sempre o objeto mais afagado de suas solicitudes maternas. E não é a cultura natural da razão o veículo expontâneo dos ensinamentos da fé? Não é a natureza estudada, conhecida, admirada, o espelho mais límpido das perfeições divinas? Não nos oferecem as harmonias da criação as mais belas analogias do mistérios altíssimos da graça? Almas apoucadas, espíritos tacanhos, entendimentos de meia luz estes que arreceiam nos progressos da ciência um estorvo natural às infaluências da religião. Não. Astrônomos, matemáticos, físicos, geólogos, historiadores, observai, numerai, investigai, descobri,
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1. Th JOUFFROY, Du problème de la destinée humane, em Mélages philosophiques, Bruxelles, 1834, pp. 361-2.


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criticai. Conscientes ou inconscientes das sublimidade de vossa missão, elevais o mais bela monumento à glória do Criador, fundamentais o mais inconcusso pedestal às verdades da religião revelada. Do vértice desta pirâmide, construída pelos maiores dentre os vossos gênios, 
eu sinto, na minha consciência cristã, que mais seguro e mais glorioso se me desprende o vôo para as alturas da fé, inacessíveis aos vossos instrumentos. Depois do heroísmo da caridade não conheço na terra espetáculo mais belo que a fronte do gênio, aureolada pelas glórias da ciência e modestamente curvada na penumbra do santuário ou no silêncio do genuflexório, absorvida ante as grandezas inefáveis da Divindade. AMPÈRE e PASTEUR, rolando as contas humildes de um rosário entre os mesmos dedos, que, no silêncio dos laboratórios científicos, tantos segredos arrancaram à natureza - cena de paraíso!

A Igreja divinamente inspirada compreendeu bem cedo a beleza deste espetáculo e ei-la desde o seu nascer, toda zelo, toda cuidados para cultivar e aperfeiçoar a inteligência do homem, ainda no domínio dos conhecimentos naturais.

Passai rapidamente sobre os primeiros séculos de sua existência. Vede-a de relance abençoando e santificando a filosofia dos JUSTINOS, dos ARISTIDES, dos ATENÁGORAS, que lhe vinha depor no regaço as mais delicadas flores da sabedoria pagã. Contemplai-a em Alexandria, em Bizâncio, em Antioquia e em Atenas abrindo universidades, fundando bibliotecas, educando os CLEMENTES e os ORÍGENES. Saudai, de vôo, esta plêiade de seus gênios, chamados AGOSTINHO, JERÔNIMO, CRISÓSTOMO, GREGÓRIO, ATANÁSIO, BASÍLIO e LEÃO que na literatura, no eloquência, na poesia, na filosofia, na teologia e na ética nos legaram o opulento patrimônio espiritual que enriqueceu todas as gerações da Europa cristã e que será lido, estudado e admirado até ao fim dos tempos.

Demorai-vos, porém, um pouco mais de sobremão em contemplar maravilhados a sua grande obra educadora nos séculos de crise para o progresso da humanidade. Com a irrupção quase simultênea das hordas barbáricas, caíram, desfeitos em pó, os últimos restos da civilização pagã. Instituições políticas e sociais, monumentos de arte, tradições antigas, tudo levou de roldão, no seu avançar irresistível, a imensa onda invasora. Neste novo ambiente social sem tradições literárias e científicas, começou a Igreja a desenvolver a sua grande atividade restauradora. Foi nos mosteiros dos seus religiosos, - oásis de paz semeados nos campos talados pelas novas raças a se entrechocarem em embates épicos, - que se preservaram


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da total ruína as obras-primas da antiguidade clássica. No silêncio destes asilos, protegidos e santificados pela religião, conservou-se o fogo sagrado da ciência. Daí, como de foco intenso, irradiaram as luzes que haviam de iluminar a nossa civilização. Admirável a obra científica realizada na obscuridade anônima do recolhimento por estes monges incansáveis, que empregavam as horas não ocupadas pela salmodia ou pelo sono escasso em transcrever e arquivar pacientemente a herança intelectual do passado!

Um só convento, asseverou o racionalista GIBBON, prestou mais serviços as letras que as duas Universidades de Oxford e Cambridge, juntas."Uma abadia, escrev por sua vez AGOSTINHO THIERRY, não era só um lugar de oração e contemplação, era outrossim um asilo público contra a invesão da barbárie. Refúgio dos livros e das ciências, nelas havia também oficinas de toda a espécie, e suas terras eram modelos de herdades. Às suas escolas vinha instruir-se os conquistadores e colonizar o próprios domínios".2

A Itália, sede do Papado, não viu nunca as sombras da ignorância descerem sobre os seus filhos. Dela se propagou o movimento da renascença literária por toda a Europa. Já no século VI o concílio de Vaisson invoca o exemplo antigo da Itália para lembrar aos sacerdotes das Gálias o rigoroso dever de instruir e educar a juventude. Mais tarde, quando CARLOS MAGNO visitou a península, ficou profundamente impressionado pela vitalidasde literária que florescia nas suas escolas e concebeu o grandioso projeto de introduzir entre os seus guerreiro o culto mais humano dos livros e das ciências. De volta ao império, ordena pelas célebres capitulares de 797 que por toda a parte se instituam escolas. E onde foi ele buscar os seus professores? Entre o monges e os sacerdotes. FRIDEGÍSIO, RABANO MAURO e principalmente ALCUÍNO, monge de York, foram a alma da renascença carlovíngia. E onde se abriram as novas escolas? Ao pé dos mosteiros e das igrejas. Multiplicaram-se, então por toda a Europa as escolas monacais, anexas aos conventos, tendo cada uma duas seções, uma para os religiosos, outra para os
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2. A. THIERRY, Essa: sur l'histoire du diters état, ch. I, ap. HETTINGER, Apologie des Christentums(0), Freiburg, i. B., 1908, t. V, p. 392. "On peut le dire sans exagération: l'esprit humain proscrit, battu de la tgormente se régia dans l'asile des églises et des monastères; il embrassa em suplliant les autels, pour vivre sous leur abri et à leur service, jusqu'à ce qje des temps meilleurs lui permissent de reparaitre, dans le monde et de respirer em plein air". GUIZOT, Histoire de la civilisation em France, 6. I, p. 137.




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leigos; as escolas adidas às sedes diocesanas, contendo igualmente duas subdivisões, repectivamente frequentadas aos clérigos e aos seculares. Além destas duas espécies de escolas, de muito, as mais numerosas, acompanhando a corte, fundaram-se também as escolas palatinas, regidas por membros do clero.3

Toda legislação eclesiástica deste tempo respira a grande solicitude da Igreja pela instrução e educação das massas. No direito econômico se encontra com admirável energia condensado todo o seu pensamento a este respeito: "A ignorância é a mãe de todos os erros. A ignorância é apenas telerável num leigo; num sacerdote é inexcusável, imperdoável". Toda a atividade foi sempre norteada por este ideal. No século VIII, Teodolfo, bispo de Orléans, baixava o seguinte decreto: Os sacerdotes mantenham escolas nas aldeias e nos campos; se qualquer (quislibet) dos fiéis lhes quiser confiar os seus filhos para aprender as letras, não os deixem de receber e instruir, mas ensinem-lhes com perfeita caridade. Nem por isso exijam ssalário ou recebem recompensa alguma, a não ser, por exceção, quando os pais voluntariamente a quiserem oferecer por afeto ou reconhecimento".4 Este decreto foi adotado, palavra por palavra, pelos regulamentos eclesiásticos da Inglaterra.

Leis semelhantes enunciadas em termos análogos encontram-se em quase todos os concílios da época. Lembremos os de Aix-La-Chapelle (789), Thioville (805), Mogúncia (813), Roma (826), Paris (829), Valência (855). O 3.º concílio ecumênico de Latrão
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3. Na sua coleção de capitulares do grande imperaedor, escreve ANSEGÍSIO, abade de S. Vaudrile: "Carlos quis que se abrissem escolas em todos os mosteiros e bispados a fim de que os filhos dos homens livres do mesmo modo que os filhos dos servos aprendessem gramática, música e aritmética". "Um sem número de fatos atesta que os mosteiros eram, em toda a parte, focos de educação não somente para os jovens clérigos senão também para a juventude leiga".MONTALEMBERT, Les moines d'Ocident, Paris. 1877, t. VI, P. 176. Falando do estado das letras antes de Carlos Magno (do séc.VI ao VIII) GUIZOT se admira "de la merveilleuse activité intelectuelle de cette époque et du grand nombre des oeuvres litéraires qu"elle a produites"...... E o progresso acentuou-se com o tempo. Nos sécs. X e XI a só escola de Fleury contava cinco mil estudantes. Sobre a difusão do ensino lna Europ nos primeiros séculos da idade média e os serviços prestados pelo monges às ciências, às letra, à educação e à história, cfr. MONTALEMBERT, Les moines d'1Occident, t. VI, I, XVIII, c. 4, pp. 142-238; frederico ozanam, Etudes germaniques, Paris, Lecoffre, 1855, t. IV, c. 99, pp. 388-553 (t. IV das obras completas). Resumindo, a influência social dos monges anglo-saxônios diz MONTALEMBERT: "Alegramo-nos de haver dado quase a cada página destes volumes a demonstração do que fizeram [os monges] para a nutrição intelectual da Inglaterra. Vemos que entre os anglo-saxões, como entre os celtas da Irlanda, da Caledônia, da Câmbria, os mosteiros eram os únicos centros de educação religiosa e liberal e que a instrução neles tanto procurada era a um tempo muito vária e muito literária". Op. cit. t. V, i, xvi, C. ÚNICO.

4. SIRMOND, Concilia Galliae, 215



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reunido em 1179 no seu cânon 18 assim legislava para a Igreja universal: "A Igreja de Deus, como mãe piedosa tem o dever de velar pelos pobres aos quais pela indigência dos pais falecem os meios suficientes, a fim de que possam facilmente estudar e progredir nas letras e nas ciências. Ordenamos, portanto, que em todas as igrejas catedrais se proveja um benefício conveniente a um mestre, encarregado de ensinar gratuitamente aos clérigos dessa igreja e a todos os alunos pobres".5

O resultado desse esforço imenso para desbastar a rudeza daquelas raças foi povoar toda a Europa de institutos de ensino primário. Onde se elevava um templo, abria-se-lhe ao lado uma escola. Graças a este zelo incansável, a França, a Inglaterra e a Alemanha viram florescer em seu solo estes seminários ferazes das ciências e das artes.

Na sua obra L'éducation populaire dans l'Allemagne du Nord, E. RENDU, inspetor geral da Universidade de França, assim se exprimia a respeito da Alemanha nos tempos que precederam imediatamente a Reforma: "O catolicismo enchera a Alemanha, como o resto da Europa, de escolas populares; decretara que o clero admitisse nestas escolas os filhos dos servos e dos livres; que todo o sacerdote encarregado de cura das almas exercesse o magistério ou por meio de um clérigo; que os bispos nas suas visitas procurassem abrir escolas onde não existissem, que o pastor de cada paróquia subministrasse aos pobre ensino gratuito... A Igreja católica fizera mais. Antecipando o pensamento de S. João Bastista de la Salle, os dicípulos de Gerardo van Coote ensinavam aos pobres a ler e escrever, a religião e as artes mecânicas. Dos países Baixos, onde havia sido fundada a Ordem, levaram estes irmãos no séculos XIV a luz da ciência e da caridade a ambas as margens do Reno, à Westfália, à Saxônia, à Pomerânia, à Prússia e à Silésia. No mesmo tempo os mosteiros de religiosas subministravam às filhas do povo as professoras que a Reforma lhes havia de tirar... Destarte o catolicismo havia lançado a pedra angular do ensino, constituindo assim para o povo como para os literatos a base de civilização gemânica".6
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5. MANSI, XXII, 117-228. O 4.º concílio de Latrão confirmou este decreto e o ampliou a todas as igrejas que se achassem em condições de manter um professor de gramática; MANSI, XXII, 909.

6. E. RENDU, De l'éducation populaire dans l'Allemagne du Nord, Paris, 1855, pp. 6-7.




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PAULSEN não fala diversamente: "Na idade média a cultura foi popular. Todos tinham uma língua, uma fé, uma poesia, uma Igreja, uma arte; do século XV em diante observa-se um desmembramento do corpo social em doutos e ignorantes, ou, como hoje se diz, em pessoas cultas e incultas. A renascença foi sua causa próxima ou a sua primeira manifestação".7

Concluamos com o célebre protestante HURTER na sua clássica História de Inocêncio III: "Só os espíritos superficiais, que nunca lançaram um olhar sobre os documentos da época, ou os espíritos orgulhosos, obcecados pela pretendida superioridade de seu tempo ou pelo ódio sistemático, ousam acusar os Papas da idade média de haver favorecido a ignorância".8 Com HURTER afinam todos os autores que conhecem a história. Citarei um só, em que não pode cabver suspeição de parcialidade, o Sr. LOUANDRE: "Nous entendons répéter chaque jour, même par des lettrés, que le moyen âge a systématisé l'ignorance, que le clergé abêtissait les populations pour les dominer, que les nobles ne savaient pas même signer leur nom et qu'ils s'en faisaient honneur. Les recherches de M. de Beaurepaire sur l'instruction publique dans la diocèse de Rouen, l'Histoire des Écoles de Montauban du Xe au XVIe suècle et quelques autres monographies locales montrent ce qu'il en est de ces assertions... L'ancienne France ne comptait pas moins de 60.000 écoles; chaque ville avait ses groupes scolaires, comme on dit à Paris, chaque paroisse avait son pédagogue, son magister, comme on dit dans le Nord. Au XIIIe siècle, tous les paysans de la Normandie savaient lire et écrire... Avant 89 il n'éxistait pas moins de dix-neuf villes d'Universités ou se presaient de nombreux élèves. Les nobles pas plus que les villains n'étaient hostils au savoir et aux lettres... L'enseignement public était três florissant au moyen âge... La guerre de cent ans et les guerres de religion lui portèrent un coup fatal".9 .

Que dizer agora do nosso gramático que, sem pestanejar, afirmar muito seriamente aos seus leitores que "a organização da instrução popular data da Reforma", p. 121, e que "o analfabetismo é a vida cancerosa da Igreja Romana; a ignorância, a condição do

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7. PAULSEN, cti. por SCHANZ, Apologie des Christientums(3); trad. ital. de Pellegrinetti, Firenze, 1910, t. III, p. 187.

8. HURTER, Geschichte Papst Innoc. III,. Hamburg, 1835. Trad. ital. de Cesare Rovida Milano, l1840, 6. III, p. 496).

9. CH. LOUANDRE, Les études historiques en France depuis la guerre, na Revue des Deux Mondes, 15 janv. 1877, pp. 452-3.



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seu florescimento"?, p. 126 Evidentemente, ou este homem calunia ou nunca abriu um livro sério de história.

Até aqui quase só nos ocupamos das solicitude da Igreja em instruir as multidões, os pequeninos e os pobres. Bem cedo, porém, ela se esforçou por alargar os horizontes das cultura intelectual e criou as universidades, sementeiras fucundas de homens ilustres vastos laboratórios da ciência moderna.

Datam do século XII (c.1100) as primeiras universidades erigidas na Europa. O seu número multiplicou-se rapidamente em toda a cristandade. Em estudo magistral sobre essa matéria,10 DENIFLE conta 55 universidades fundadas até ao ano de 1440.11 Se a estas acrescentarmos mais 12 escolas superiores a que falsamente se atribuiu esse título,12 temos um total de 67 institutos de ensino superior, fundados na Europa, no intervalo de pouco mais de dois séculos, após a luta pertinaz contra a ignorância e as outras consequências das invasões bárbaras. Destes institutos, a Itália possuía 31, a França 14, a Espanha 9, a Áustria-Hungria 5, o Império germânico 3, a Inglaterra 2, a Irlanda 1, Portugal 1, e Suíça 1.

Só esta distribuição geográfica mostra para logo onde se achava o centro da cultura, o foco donde irradiavam as luzes para toda a Europa: é a Itália, sede do Papado.

Mas, sob a direção de DENIFLE, particularizemos mais. Qual a origem desta universidades? Impossível dar uma resposta geral. Podemos, neste ponto de vista, distribuí-las em quatro grandes categorias. À primeira pertencem as universidades constituídas antes de 1230, ex-consuetudine, sem nenhum diploma de fundação. São 11: Paris, Bolonha, Osford, Orléans, Angers, Salerno, Pádua, Vercelli, Reggio, Modena e Vicenza.13 A começar daquela data não se encontra nenhuma universidade fundada sem diploma. As erigidas com diploma exclusivamente PAPAL constituem a segunda categoria e são 21.14 A terceira categoria compreende 13 universidades
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10. H. DENIFLE, Die Universitäten des Mittelalters bis 1400, Berlin, 1885.

11. Deste número, porém, cumpre deduzir 9 universidades, cujos diplomas de fundação não lchegaram a ser executados. São elas: Na Itália 4: Fermo, Verone, Orvieto, Lucca; na França 1: Pamiers; Na Irlanda 1; Dublin; na Suíça 1: Genebra; na Espanha 2: Valência e Alcalá. Algumas destas foram efetivamente erigidas depois de 1900, termo a que cingiu Denifle as suas investigações. DENIFLE, Op. Cit., pp. 630-655.

12. São elas: Macerata, Lião, Brescia, Messina, Palermo, Viena, Parma, Reims, Todi, Pistoia, Mantua, Parma. DENIFLE, Op. cit., pp. 221-231.

13. DENIFLE, Op. cit., pp. 231-301.

14. Eis as mais célebres, distribuídas geograficamente: França 5; Tolosa (Gregório IX, 1229), Montepellier (Nicolau IV, 1289). Avinhão (Bonifácio VIII, 1303), Carhors (João XXII, 1332), Grenoble (Bento XII, 1339); Itália 4: Roma 2 universidades, a da Cúria Pontifícia (Inocêncio IV, 1244-45) e a Sapiência (Bonifácio VIII, 1303), Pisa (Clemente VI, 1343), Ferrara (Bonifácio IX, 1392); Alemanha 3: Heidelberg (Urbano VI, 1355), Colônia (Urbano VI, 1388), Erfurt (Urbano VI, 1389); Hungria 2: Pécs (Urbano V, 1367), Buda (Bonifácio IX, 1389-90); Inglaterra 1: Cambidge (João XXII, 1318); Espanha 1: Valladolid (Clemente VI, 1346), etc. DENIFLE, Op. cit., pp. 301-424.



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fundadas por diploma exclusivamente imperial ou principesco.15 Na 4.ª catgegoria incluem-se 10 outras universidades, cuja origem é devida a diploma papal e imperial ou principesco, juntamente.16 Assim, das 44 universidades fundadas com diploma até 1400, 31, isto é , quase 3/4 foram total ou parcialmente criação da Igreja. As outras concederam os Papas proteção, auxílios e privilégios.

O século seguinte, prolongado até a explosão da Reforma, não foi menos fecundo em criações universitárias. Infelizmente não temos para este período a guia preciosa e autorizada de um DENIFLE. Mas ainda assim conseguimos averiguar a fundação de 30 universidades, devidas umas à munificência de príncipes católicos, outras à iniciativa exclusiva dos Papas e bispos, outras ainda à coloboração harmoniosa dos dois poderes. Geograficamente, assim se distribuem estes grandes estabelecimentos de ensino: Alemanha 11; França, 6; Itália, 3; Espanha, 3; Escócia, 33;17 Bélgica, 1; Suiça, 1; Dinamarca, 1; Suécia, 1.18.
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15. As mais conhecidas: Espanha 5: Valência (Afonso VIII, 1212, 14), Salamanca (Fernando III, 1245), Sevilha (Afonso, o Sábio, 1254), Lérida (Jaime II, 1300), Huesca (Pedro IV, 1354); Itália 4: Arezzo (Carlos IV, 13550, Siena (Carlos IV, 1357), Nápolis (Frederico II, 1224), Treviso (Frederico o Belo, 1318); França 1: Orange (Carlos IV, IMP. 1365), DENIFLE, Op. cit., pp. 424-515.



16. Eis as mais importantes: Itália 4: Perúgia (Comune di Perugia, 1266, Clemente V, 1308), Florença (Senhoria 1321, Clemente IV, 1349), Placêrncia (João Galeazzo, 1398,Inocêncio IV, 1248), Pávia (Carlos IV imp. 1361, Bonifácio IX, 1389); Áustria-Hungria 3: Praga (Carlos IV imp. 1348, Clemente VI, 1347), Viena (Rodolfo IV, daque d"Áustria, 13265, Urbano V, 1365),Cracóvia (Casimiro, 1364, Urbano V, 1364); Portugal 1: Lisboa-Coimbra (D. Dinis, 1288-1309, Nicolau IV, 1290); Espanha: Perpingnan (Pedro IV de Aragão, 1349) Clemente VI, 1243). Cfr. DENIFLE, Op. Cit., 515-630.


17. Das 4 universidades mais importantes da atual Escócia presbiteriana, só uma, a de Edimburgo, parece ser de fundação protestante (Jaime VI, 1582), as outras três, Glasgow, Aberdeen e St. Andrew, são de origem católic. Digo parece, porque, segundo o protestante KEITH, o verdadeiro fundador da Universidade de Edimburgo foi o bispo católico de Orkney, ROBERTO REID (1558).

18. Mais particularmente: Alemanha, 11: Wurzburgo (1402, Bonifácio IX), Leipzig (1409, Alexandre V), Rostock (1419, Martinho V), Greifswald (1456, Cakixto III), Friburgo in Baden (1455) Tübingen (1477), Inglstadt (1459, Pio II), Treveri (14509), Mainz (1476, Sixto IV), Francoforte a. Oder (1506, Julio II); França 6: Aix na Provença (2409), Poitiers (1431) Caen (2437, Eugênio IV), Bordeux (1441), Nantes (1463, Pio II), Bourges (1465, Paulo II); Itália 3: Turim (1412), Parma (1422), Catânia (1445); Espanha 3: Alcalá (1499); Barcelona (1450, Nicolau V), Valência (1452); Escócia 3: St. Andrews (1411, bispo H. Wardlaw), Glasgow (1453), Aberdeen (1494); Bélgica ': Lovaina (1426): Suécia 1: Upsala (1477); Dinamarca 1: Copenhag (1479, Sixto IV).





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Resumindo: No decurso de pouco mais de 3 séculos (XII-XVI), no seio de uma sociedade emersa, não havia muito, da barbárie, lutando contra todos os obstáculos de um ambiente sem patrimônio intelectual hereditário, a Igreja católica coadjuvada por príncipes e soberanos católicos com um esforço civilizador gigantesco, conseguiu dotar a Europa de 97 institutos superiores de ensino.Não menos que o número, era notável a atividade intelectual das universidades medievais. Direito, medicina, línguas,19 Artes, ciências, filosofia, teologia, tudo se ensinava e cultivava com ardor. Em 1388 a Universidade de Bologna contava 68 professores (sem contar os teólogos que, membros de institutos religiosos, não recebiam vencimentos públicos) assim distribuídos: direito canônico 12, direito civil 27, medicina 14, artes 15. Em 1474 a Universidade de Ferrara numerasva 51 professores: 14 de direito romano, 9 de direito canônico, 2 de grego e os mais de medicina, filosofia, artes e letras latinas. O corpo docente de Sapiência de Roma em 1514 constava de 88 lentes: 20 de direito civil, 11 de direito canônico, 15 de medicina, 4 de teologia, 38 de artes, isto é, filosofia, matemática, retórica e gramática.


Ao número dos mestres correspondia a frequência dos alunos. A língua latina usada no ensinamento facilitava a afluência da juventude de todas as nações aos grandes centros de cultura. Em 1200 Bolonha contava dez mil estudantes: italianos, lombardos, francos, normandos, provençais, espanhóis, catalães, ingleses, germanos, etc. Pouco antes da Reforma, no século XVI, as universidades de Zwoll, Bois-le-Duc, Colônia, Deventer eram frequentadas respetivamente por 800, 1.200, 2.000 e 2.200 estudantes. A de Viena contava 3.000 e sob Maximiliano I, 7.000; a de Lovaina, fundada por Martinho V, no século XVI, segundo o testemunho de JUSTO LÍPSIO numerasva 7 a 8 mil escolares e 2.000 estudantes de leis; as de Paris e Cracóvia, nos seus melhores tempos, atingiram a elevadíssima cifra de 15 mil estudantes.

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19. Um decreto de CLEMENTE V, no Concílio de Viena de 1311, ordenava que se abrissem cursos de línguas orientais: hebreu, caldeu, árabe, armênio, etc. Poucos anos depois, Paris, Bolonha, Oxford, Salamanca, Roma já tinham os seus magistri linguarum. Antes, porém, do decreto do concílio vienense já a iniciativa particualr havia promovido com êxito os estudos linguísticos. Em 1350 S. RAIMUNDO DE PEÑAFORT alcançava do geral dos domínicos João Teutônico, a ordem de fundação de escolas para o árabe e ele próprio as iniciava, abrindo uma em Tunísia, outra em Múrcia. Quase na mesma época o B. RAIMUNDO DE LULO consagrava 10 anos ao estabelecimento do Colégio da Trindade de Miramar, destinado ao estudo do árabe e aprovada em 1276 por João XXII. A propaganda ativa deste zeloso missionário junto aos papas e cardeais preparou em grande parte o decreto do Concílio de Viena.



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A fim de facilitar aos pobres o acesso aos estudos superiores, a caridade católica fundara, em quase todas as universidades, bolsas ou becas de subvenção. Em Paris contavam-se 610 bolsas fundadas pelo clero;20 Em Lovaina havia mais de 40 colégios ou casas destinadas a hospedar e alimentar os estudantes diligente e talentosos mas sem recursos financeiros.

À vista deste rápido esboço quem ousará acusar a idade média de obscurantismo ou inculpar a Igreja católica de haver estorvado o progresso das ciências?

Nem só na fundação das universidades consistiu a ação da Igreja em prol da cultura. Percorrei a história dos Papas e numerai, se possível, as suas benemerências científicas. Ouvi ésta página de FREPPEL: "Seria infinito se quisesse enumerar todos os serviços prestados pelo Papado às ciências e às letras. Mostrar-vos-ei um Papa à frente da renascença da literatura grega e latina; os prófugos de Constantinopla que vêm buscar asilo à sombra do trono prontifício; Lascaris, no Esquilino, ao lado do palácio de Leão X ensina o grego à Europa admirada; Nicolau V que mantém uma legião de doutros que vão à cata de manuscritos, por todo o mundo; Pio II, o douto Enéias Sílvio, que une a própria ciência às luzes dos seus protegidos.. E para mais nos paroximarmos dos nossos dias citarei Paulo IV que favorece a Copérnico nas suas imnortais descobertasç; Gregório XIII que pede à astyronomia um cômputo mais regular dos meses e dos dias;21 SIXTO V que amplia a Biblioteca Vaticana,22 maravilha do mundo; URBANO VIII cujas poesias latinas figuram
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20. O pio e douto cônego ROBERTO SORBON fundou em 1232 o colégio de Sorbona (donde mais tarde o nome dado a toda a universidade) para auxiliar os estudante pobres. O colégio Mirton, fundado em Oxford, em 1274, o colégio de S. Pedro (Peterhouse), fundado em Cambridge em 1284 foram os primeiros dos numerosos institutos análogos das duas célebres universidades inglesas. Em Bolonha antes de 1400 já se contavam 6 grandes colégios, entre os quais o espanhol, devido à munificência do Cardeal ALBORNOZ (1364) e que ainda hoje se conserva.



21. Como é sabido, GREGÓRIO XIII reformou em 1582 o calendário juliano que apresentava nesta época uma diferença de 11 dias do calendário astronômico. As nações católicas abraçaram logo a indispensável reforma. Os protestantes, por ódio ao Papado (oh! espírito científico!) recalcitraram por quase dois séculos. A Inglaterra só adotou em 1752, a Suécia em 1753, os Estados alemães em 1776. Naturalmente não convinha ceder à verdade, só porque promulgada pelo Papa! Era preferível estar em contradição com a ciência que em harmonia com Roma! Ainda hoje, a cismática Rússia, por acinte ao Sumo Pontífice, caminha no seu calendário com um atrazo de 12 dias em relação ao resto do mundo civilizado.


22. Ainda em nossos dias, a Santa Sé adquiriu por 600.000 liras a riquíssima biblioteca dos príncipes Barberini, com 50 mil volumes e uma preciosa coleção de 12.000 manuscritos. LEÃO XIII franqueou aos doutos de todo o mundo os salões da magnífica biblioteca Vaticana que, um das melhores do mundo, conta atualmente cerca de 60.000 códices e 8.000 incunábulos. Quem viu no palácio dos palmas esta plêiade de sábios (mais de 250 qeu afluem anualmente para estudos prolongados) a enriquecer a ciência com a investigação dos tesouros da antiguidade, por mais sectário, não lhe sobra ânimo de acusar a Igreja católica de hostil ao progresso científico.



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com razão entre os melhores trabalhos do gênero nos tempos modernos, e finalmente o grande Bento XIV, ao qual prestava homenagem o próprio Voltaire que nele saudava o homem mais douto do século XVIII".23

Voltemos a página e estudemos a influência da Reforma na cultura intelectual da Europa.24
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23. Outro distinto historiador recente: "Citer les noms de Pie II, de Nicolas V, de Jules II et de Léon X, c'est évoquer le souvenir de la plus puissante et de la plus efficace protetion que la vie intellectuelle du genre humain ait jamais recue d'une autorité souveraine". G. KURTH, L'Eglise aux tournants de l'histoire(5), Bruxelles, 1913, p. 153.

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